E eis que nos surge África!

segunda-feira, outubro 12, 2009

E o segundo dia no continente africano começou. Para hoje o objectivo era chegar a Fez, cidade imperial e Património Mundial da UNESCO desde 1981.

Depois do pequeno-almoço tomado, de analisado o mapa das estradas de Marrocos e de escolhida a estrada (mais) amarela e das motas desencaixadas da Medina de Chefchaouen, tomamos a estrada, de alcatrão, primeiro, de... alcatrão e muitos, muitos buracos, depois, sempre acompanhados com muito calor que nos fez lembrar a África dos desertos e do estio, apesar de ainda no norte.

Tudo era ainda novidade. Só agora tínhamos começado verdadeiramente a entrar em Marrocos, em África e no choque civilizacional que todos esperávamos desde o início da viagem. Estradas infindáveis que se cruzam em aldeias perdidas, mas cheias de movimento. Normalmente com pouco asfalto fora das localidades e com nenhum asfalto dentro delas, o que as transforma numa amalgama de pó, calor, pessoas e muitos veículos, parados, a andar, desmontados, em mau estado, artesãos a trabalhar no meio da rua, “restaurantes” a fumegar dos grelhados, animais, crianças a correr ao lado das motos, grupos de crianças a gritar e esbracejar... pó, lixo, sujidade...

Numa dessas aldeias era dia de mercado. Não sei bem como descrever o caos. Acho que não consigo. Um emaranhado de carros, carrinhas Mercedes carregadas, demasiado, camiões cheios, tão cheios que a carga, aparentemente mal presa, parecia ir se soltar a qualquer instante. Pessoas, tendas, vendedores, animais e tudo o que possam imaginar, entupia completamente a estrada; ninguém, nem nada se conseguia mexer! Literalmente! Uns apitavam, outros gritavam, uns cediam indicações e esbracejavam vigorosamente, mas nada sortia efeito. Lá começamos a tentar, a custo, muito custo, serpentear no meio de tudo aquilo, a raspar carros com as malas de alumínio, a ser auxiliados por Marroquinos que nos empurravam as motos e retiravam obstáculos do caminho... A custo, muitos minutos depois e sem desfazer aquele nó gigante, lá passamos e preparávamo-nos para deixar para trás aquela aldeia, não sem antes lançar um ultimo olhar para tudo aquilo, para toda aquela confusão e se desprender um sorriso: eis o que tanto procurávamos, o caos de terceiro mundo, e como os Marroquinos se sentiam como peixe na água, no meio de tudo aquilo!

O almoço foi numa terra de nome desconhecido (GPS - 34º32'03.85'' N 4º58'11.66'' W), à beira de uma barragem que nos acompanhou durante alguns quilómetros, antes do almoço e que proporcionou a primeira queda da viagem, a aprovar que África é mesmo a terra dos contrastes: no meio de todo o calor, pó e secura, uma massa imensa de água.


Ali, no meio de nenhures, esperar comer peixe seria uma ideia muito, muito remota, mas foi mesmo o que comemos: uma espécie de petinga (sardinha pequena), acompanhada com cebola, tudo grelhado, regadas com muitas Coca-Cola (pouco) fresquinhas, para matar a sede.

No resto da viagem até Fez creio não ter existido nada digno de destaque...

Chegamos a Fez já de noite. A primeira grande cidade Marroquina e o primeiro banho de trânsito Índia style. Vejo agora que pouco, mas isso é para outro dia... Em Fez, se quiserem mergulhar na Medina, é quase obrigatório encontrar um guia. Por sorte, fomos parar as motos, para arrefecer do pára - arranca do trânsito, mesmo em frente a um, dizia-se oficial (e mostrou-nos o cartão) que adoptamos como nosso, depois de discutido o pagamento e as condições.

Para escolher o local onde pernoitar, sempre aconselhado pelo “Panças” (o nosso cognome para o guia) e depois de muitos visitar, desde luxuosos palácios dentro da Medina, por 1000 Dirham (cerca de 100€) por nós cinco, até espeluncas infectas por 1.5€, acabamos por ficar num velho hotel, com pinta, mas degradado e descuidado. Uma pena, pois com uns cuidados mínimos, poderia recuperar novamente o esplendor que teve, com toda a certeza, na data da sua construção! E aquele terraço, sobre a Medina...

O jantar dos quatro, foi lá mesmo, na Medina, num dos muitos pontos onde se pode comer qualquer coisa, confeccionado e servido com as mãos, claro, por alguém que tinha uma ferida enorme e purulenta na mão com que cozinhava a nossa refeição e com a qual nos serviu depois. Rodeados de carcaças de animais que serviriam de refeições a alguém, cravejadas de moscas e quem sabe mais, galinhas ainda vivas que espreitavam as suas congéneres já degoladas, etc. devoramos aquilo que até estava uma delícia. Digo até, porque aquela mão, não sendo propriamente esquisito e impressionável, até a mim me causou arrepios.

Ei-lo: o nosso cozinheiro purulento!

Éramos só quatro ao jantar. O primeiro desarranjo intestinal da viagem, colocou um de nós de cama. Ficou no hotel a repousar. Nem jantar veio: levamos-lhe pão, queijo (sempre em barra) e água (sempre engarrafada).

Algumas fotos deste dia

Dia 03 – 12 de Outubro de 2009

segunda-feira, outubro 12, 2009




No dia de hoje acordei com um pouco de sono… passei a noite toda agarrado a barriga, mas o início do dia melhorei um pouco, não estando a 100% estou pronto para mais um dia de viagem.

Escolhemos uma estrada “branca” e que surpresa… uma estrada fabulosa perdida no meio das montanhas, no meio de aldeias esquecidas no meio de Marrocos, quando circularmos na estrada, as crianças vinham a correr sabe-se lá de onde a acenar, parecia aquelas imagens do Dakar, incrível! No meio do percurso paramos num lago enorme e comemos umas sardinhas… quem diria! Foi mesmo cinco estrelas!

A chegada a Fez foi surpreendente, agora sim deu para perceber o caos do trânsito que é, o cheiro das fábricas em redor da cidade são nojentos! No meio da confusão somos abordados por um “Guia Oficial” (será que era?) que nos leva a visitar alguns albergues/hotéis, mas para isso tivemos que o levar nas motas… e adivinhem lá quem o levou, saltou para cima da minha mota e a coitada arreou toda, ele é mais gordo que o Obelix!

Ao final do dia estava tão mal disposto que acabei por ficar no albergue e nem fui jantar.